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Três décadas de enfrentamento da Aids

HIV

Três décadas de enfrentamento da Aids

Mesmo com melhor controle, Aids ainda faz vítimas

O número de novas infecções por HIV no mundo diminuiu 35,5% entre 2000 e 2014. É o que aponta o novo relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), divulgado no último mês de julho. Em 2000, a estimativa era de 3,1 milhões de pessoas infectadas no mundo que, em 2014, caiu para 2 milhões. Entretanto, no Brasil o número de novos casos aumentou no mesmo período. Em 2000, a estimativa era de 29 mil a 51 mil novos casos de HIV, número que subiu de 31 mil a 57 mil novos casos em 2014.

Segundo o infectologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco, este é um quadro com números do mundo inteiro e há lugares com maior concentração de pacientes. “Só na África do Sul são quase 7 milhões de pessoas infectadas, das 32 milhões em todo o mundo. África e, especialmente a região subsaariana, levou muito tempo para realmente disponibilizar o tratamento.  Assim, quando o tratamento passa a ser mais disponível é esperada queda inicial significativa e é exatamente o que está acontecendo nestas regiões. Países e regiões onde o enfrentamento do HIV/Aids foi precoce, como o Brasil, os Estados Unidos e a Europa Ocidental foram capazes de impedir que houvesse grande número de pessoas infectadas, sem entretanto controlar completamente a transmissão do vírus. Nesta situação, torna-se mais visível qualquer aumento, o que justifica ainda maior empenho para combatê-lo”, argumenta.

Mesmo com o estabelecimento precoce de um programa nacional para o enfrentamento da epidemia e do número relativamente baixo de pessoas infectadas pelo HIV no Brasil, quando comparado com a África do Sul, por exemplo, vale lembrar que, anualmente, ainda morrem de 10 a 12 mil pessoas no país por causa da doença. A Aids tem métodos eficazes de prevenção e de tratamento, mas ainda não desapareceu e tem aumentado entre os jovens,  principalmente os homossexuais. “Há diversas explicações para este aumento, entre elas que a doença está menos visível. O jovem de hoje não viu a fase mais complexa da infecção do HIV, quando a mortalidade era maior, hospitais não atendiam e médicos e enfermeiros não queriam chegar perto. Hoje, há a falsa sensação que já não é mais problema, pois o lado positivo da existência de tratamento eficaz veio associado à diminuição da discussão sobre a necessidade de prevenção e com pouca visibilidade na mídia”, explica Greco.

Tratamento

O diagnóstico e tratamento para as pessoas vivendo com HIV/Aids no Brasil é todo disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). São 21 tipos diferentes de medicamentos existentes. Greco lembra que, em 1996, quando começaram a aparecer os “coquetéis”, as pessoas chegavam a tomar até 18 comprimidos por dia. Hoje, o Brasil já disponibiliza para o início do tratamento uma associação com três medicamentos em um comprimido único para ser tomado uma vez ao dia. “É realmente um grande progresso, facilitando a aderência ao tratamento, que deverá ser mantido pelo resto da vida ou até que se descubra a cura da infecção. Hoje é possível afirmar que as pessoas que vivem com HIV/Aids no Brasil, onde existe o acesso à tratamento eficaz e que tomam os medicamentos de maneira correta têm toda a chance de sobreviver”, afirma Greco.

Prevenção

A principal forma de prevenção para não ser infectado pelo vírus é o uso do preservativo durante a relação sexual. No Brasil, cerca de 800 milhões de preservativos são distribuídos anualmente pelo SUS.

Outro caminho para o controle da epidemia é o desenvolvimento de vacina eficaz, como acontece em relação a outras doenças infecciosas. Entretanto, até hoje os esforços para este desenvolvimento não tiveram sucesso e mesmo os mais otimistas temem que uma vacina contra a Aids não seja capaz de conferir imunidade esterilizante, ou seja, não será capaz de proteger 100% o organismo do vírus. “É possível que mesmo com o desenvolvimento de uma vacina ainda haverá pessoas que se infectarão. Além disto, esta tão esperada vacina prevenirá apenas uma das doenças sexualmente transmissíveis, ou seja, a pessoa continuará exposta, entre outros, ao HPV, sífilis, hepatite B e a gonorreia. Isto significa a necessidade de reforçar o uso do preservativo mesmo que uma vacina seja desenvolvida e disponibilizada”, avalia Greco.

Atualmente, existe a prevenção com o uso de preservativo, prevenção com medicamento, possibilidade de vacina e o tratamento em si como prevenção, pois a diminuição da carga de vírus diminui o risco de transmissão. “Temos hoje em mãos todos os instrumentos necessários para acabar com a infecção, mesmo que ainda não consigamos eliminar o vírus”, explica Greco.

Desafios

Para Greco, já existem instrumentos para controlar e até erradicar a epidemia, mas ainda há vários desafios para que isto seja alcançado. Um deles é o enfrentamento da disparidade, da pobreza, do preconceito e da discriminação, pois estas aumentam a vulnerabilidade das pessoas em relação ao HIV/Aids, dificultando o acesso à necessária prevenção, aos cuidados médicos e à adesão ao tratamento.

Outro desafio é alcançar as cerca de 150 mil pessoas que vivem com o vírus no Brasil, mas que ainda não sabem que estão infectadas. Uma recomendação está sendo discutida no Conselho Federal de Medicina para que, em todas as consultas, o médico ofereça quatro testes para o paciente: HIV, hepatites B e C e sífilis. “É esperado que os testes serão negativos na maioria das vezes e a entrega dos resultados será uma grande oportunidade para reforçar a necessidade de prevenção aos riscos das doenças sexualmente transmissíveis. Por outro lado, aquelas que tiverem o resultado positivo para o HIV ou para sífilis, por exemplo, serão imediatamente encaminhadas para tratamento e já se sabe que o tratamento eficaz aumenta a sobrevida e a qualidade de vida, além de diminuir exponencialmente o risco de transmissão”, explica Greco.

Enfrentamento da Aids

No dia 12 de agosto será realizado o evento “30 anos de enfrentamento da Aids na Faculdade de Medicina e no Hospital das Clínicas da UFMG”. A reunião será realizada a partir das 19h, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina e a entrada é aberta ao público em geral.

No dia serão discutidos o que foram esses 30 anos de enfrentamento e a perspectiva do controle da epidemia daqui para frente. Irão compor a mesa do encontro o diretor da Faculdade de Medicina, Tarcizo Nunes; a superintendente do Hospital das Clínicas, Luciana de Gouvêa; o diretor executivo adjunto do Unaids-Suíça, Luiz Loures, o diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita; os secretários de Saúde do Estado de Minas Gerais, Fausto Pereira dos Santos e da Prefeitura de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta; a idealizadora do Projeto Ammor (Ação Multiprofissional com Meninos em Risco), Irene Adams e uma pessoa vivendo com HIV/Aids, Floriano Leite. O encontro será mediado pelo professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco.

A data marca a criação, em 13 de agosto de 1985, de um setor no Serviço de Doenças Infecciosas, no ambulatório Bias Fortes do Hospital das Clínicas da UFMG, o qual em 1991 foi integrado ao Centro de Treinamento e Referencia de Doenças Infecciosas e Parasitárias (CTR DIP Orestes Diniz), em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. Este setor foi um dos pioneiros no Brasil e o primeiro em Minas Gerais a atender pessoas em risco ou vivendo com HIV/Aids.

 

Com Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina da UFMG