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Dispositivo que determina idade gestacional de prematuros é testado no HC-UFMG

Pesquisa

Dispositivo que determina idade gestacional de prematuros é testado no HC-UFMG

Ele foi desenvolvido por pesquisadores da UFMG e médicos do Hospital das Clínicas

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuros a cada ano e um milhão morre por causa das complicações da prematuridade, que lidera as causas de morte neonatal e é responsável pela metade dos casos de comprometimento neurológico em crianças. Na maioria dos casos, esses bebês precisam receber cuidados especiais, como suporte respiratório e controle de temperatura, ou ser encaminhados a uma unidade neonatal. Para que isso ocorra de maneira satisfatória, é necessária a identificação exata da idade gestacional, calculada, atualmente, por um pediatra ou enfermeiro neonatólogo treinado.

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFMG e médicos do Hospital das Clínicas da UFMG desenvolveram um dispositivo, que se vale da luz de LED, batizado de Projeto Skinagem, para conferir mais precisão à idade gestacional. Os testes estão sendo realizados na maternidade neonatal do Hospital das Clínicas da UFMG. Segundo a professora, médica e coordenadora do projeto, Zilma Reis, as técnicas disponíveis fazem o cálculo com erro de duas a três semanas e dependem de um profissional treinado na área. Já com o dispositivo, patenteado pela equipe, a margem de erro é de 11 dias nas primeiras 48 horas de vida.

Outra vantagem é que essa estimativa pode ser feita por qualquer profissional da maternidade. "Em lugares como a África, apenas 5% das mulheres têm acesso à ultrassonografia. A grande maioria, portanto, não dispõe de parâmetros para identificar a idade gestacional. Dessa forma, quem mais se beneficiará dessa tecnologia são os países de baixa e média renda, onde não há pediatra na sala de parto ou não é comum fazer o pré-natal", afirma Zilma Reis.

As conclusões do estudo foram publicadas na revista “Public Library of Science”, com o título “Newborn skin reflection: Proof of concept for a new approach for predicting gestational age at birth. A cross-sectional study”.

Na pele

A identificação da idade gestacional, segundo Zilma, é feita por meio da reflexão da luz na pele, analisada com um algoritmo que a ajusta ao peso e às condições do ambiente de incubadoras. São utilizadas três cores de luz de LED, energia considerada barata e acessível. Cada uma tem um comprimento de onda de luz que identifica determinado elemento da pele: colágeno, queratina e glóbulos vermelhos. "A luz interage com a pele, e a forma como ela se reflete gera um fenômeno que conseguimos analisar cientificamente. Um bebê prematuro, que tem a pele muito fina, absorve mais luz e reflete pouco. À medida que ele vai amadurecendo, a pele fica mais espessa, refletindo mais luz", exemplifica.

A coordenadora do projeto afirma que a identificação da idade gestacional dos bebês recém-nascidos é um problema mundial, e a falta dessa informação pode comprometer suas chances de sobrevivência. "Em razão do tamanho, o bebê pode ser considerado aborto ao nascer – situação em que não é possível garantir sua sobrevida – e deixar de receber todo o cuidado necessário", afirma a professora.

Outro aspecto ressaltado por Zilma é o limite entre o bebê nascido a partir de 37 semanas de gestação e que geralmente não precisará de suporte respiratório e o de 35 ou 36 semanas. Identificar os prematuros alerta para os cuidados especiais que devem receber, como controle da temperatura.

 

Novos testes

Zilma Reis informa que os próximos passos deverão envolver testes em outros ambientes e produção e distribuição de um número maior de dispositivos para o desenvolvimento de pesquisa multicêntrica no Brasil e no exterior – neste caso, com suporte de colaboradores internacionais. Ela também defende que a tecnologia seja testada em outros bebês, de cores de pele diferentes, e por mais profissionais para verificar se o resultado inicial será confirmado: "Neste momento de escassez de recursos para custear pesquisas no país, buscamos mais financiamentos, nacionais e internacionais, e hospitais colaboradores para a etapa de validação. Também estamos avaliando as possibilidades de reunir parceiros para produção desse novo equipamento no Brasil", anuncia.

O projeto foi financiado pela Bill & Melinda Gates Foundation e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Ele foi selecionado entre as iniciativas apoiadas pela sétima edição do Building Global Innovators (aceleradora internacional de tecnologias) e apresentado na terceira edição do WHO Global Forum on Medical Devices, da Organização Mundial da Saúde (OMS), realizada neste ano. Mais informações estão disponíveis no site do Projeto (http://skinage.medicina.ufmg.br/index.php/pt/).

 

(Texto de Deborah Castro, jornalista da Faculdade de Medicina da UFMG – Boletim 1994)