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Especialistas do HC-UFPE explicam a alta taxa de mortalidade infantil e materna superior na população preta e parda

CONSCIÊNCIA NEGRA

Especialistas do HC-UFPE explicam a alta taxa de mortalidade infantil e materna superior na população preta e parda

Neste segundo dia de ações do HC dentro da Semana da Consciência Negra da UFPE, trazemos uma reportagem com a ginecologista e obstetra Debora Leite e a pediatra Suzana Costa sobre morte materna e mortalidade infantil

A mortalidade materna está relacionada às complicações que ocorrem durante a gestação ou até 42 dias após o parto.  De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), aproximadamente 830 mulheres morrem por dia no mundo por causas evitáveis relacionadas à gestação e ao parto. Dessas mortes, 99% ocorrem em países em desenvolvimento. A falta de informação, as desigualdades no acesso aos serviços de saúde e as desigualdades sociais e raciais são alguns dos principais fatores. As mulheres pretas e pardas com menor poder aquisitivo são as mais afetadas, pois são as que têm menos oportunidades de atenção obstétrica com acesso mais precário e limitado aos serviços de saúde. 

Conforme dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) referentes ao ano de 2018, no Brasil, 35.785 mulheres pretas e pardas em idade fértil foram vítimas da mortalidade materna, já o número de mortes de mulheres brancas foi de 25.655. No Estado de Pernambuco, neste mesmo ano, o número de mortes de mulheres negras e pardas chegou a 2.174 enquanto o número de mortes de mulheres brancas chegou a 745. 

No ano de 2020, um estudo publicado no periódico médico “International Journal of Gynecology & Obstetrics” aponta que 124 mulheres gestantes ou puérperas morreram em decorrência do novo coronavírus no Brasil. Esse número representa 77% das mortes em relação aos outros países. Registros do Ministério da Saúde mostram que o número de grávidas que foram hospitalizadas em decorrência de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAGs) com diagnóstico confirmado para covid-19 é maior entre mulheres pretas e pardas quando comparado às brancas. Das gestantes negras que foram hospitalizadas 14,2% morreram, em relação às brancas o quantitativo de mortes foi de 7%, configurando metade dos casos. 

Causas
Dentre as principais causas de mortalidade materna que poderiam ser tratadas e evitadas estão à hipertensão; hemorragias graves (principalmente após o parto); infecções (normalmente depois do parto); complicações no parto e abortamentos  inseguros. Segundo a ginecologista e obstetra do Hospital das Clínicas da UFPE, Debora Leite, a mortalidade materna está associada à questão do acesso à saúde,  além do fator biológico e do quadro clínico que a paciente apresenta no momento do internamento hospitalar. "Os dados disponíveis se mostram piores para as negras. Essas mulheres, geralmente, possuem menos acesso à informação, menos recursos financeiros e residem em locais de vulnerabilidade social. Mas também o que pesa, diante dessas mulheres, é a dificuldade ou o acesso tardio à saúde”, afirma. 
Ainda segundo Debora Leite, a raiz do problema está nas desigualdades. "Do ponto de vista macro, é fundamental pensar e enxergar que essa desigualdade de fato existe e ela se dá no próprio acesso à saúde. Deveria ser pensado também em formas de ver os determinantes sociais de saúde, como, por exemplo, ver como está o acesso à informação dessas mulheres, conscientizá-las sobre a importância do pré-natal, melhorar o acesso a esse pré-natal para evitar não só a morte materna como o nascimento prematuro do bebê, avaliar os recém-nascidos após a alta hospitalar para diminuirmos a quantidade de mortes infantis que também podem ser evitadas em certas ocasiões”, informa. 


Mortalidade Infantil
Em relação à mortalidade infantil, a pediatra do HC-UFPE, Suzana Costa, explica que a taxa desses óbitos é um importante indicador das condições de vida de uma população, refletindo as desigualdades sociais. “O estudo dessa mortalidade é realizado segundo estas faixas etárias: neonatal precoce (óbitos ocorridos entre 0 e 6 dias de vida/mil nascidos vivos); neonatal tardio (óbitos ocorridos entre 7 e 27 dias/mil nascidos vivos) e pós-neonatal (óbitos ocorridos entre 28 e 364 dias/mil nascidos vivos). 

“Quando observamos os dados do Datasus, no período de 2013 a 2018, é possível notar que não houve mudança na taxa de mortalidade infantil em pretos e pardos nas idades referidas acima em nosso estado”, salienta. 

Ainda com base nos números fornecidos pelo Datasus, em 2018, o quantitativo de mortes das crianças negras e pardas no Brasil chegou a 18.376, enquanto o de crianças brancas foi de 13.914.

Edição: Raítza Vieira | Texto: Cecília Vieira