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HC participa da Semana da Consciência Negra da UFPE

ENTREVISTA

HC participa da Semana da Consciência Negra da UFPE

Hospital vai trazer conteúdos nos canais de comunicação sobre saúde e população negra até esta sexta-feira (27)

O Hospital das Clínicas da UFPE, unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), traz, de hoje a sexta-feira (27), entrevistas com professores e médicos da instituição, a fim de promover uma reflexão sobre “saúde e população negra”. Além dos textos, uma ação contra o racismo foi publicada no perfil do Instagram do HC-UFPE (@hc.ufpe), e um vídeo será produzido.  O conteúdo faz parte das atividades do HC dentro da Semana da Consciência Negra da UFPE, iniciada na última sexta-feira (20) e que segue até o próximo dia 27.

Abrindo a série, a médica sanitarista, professora da área acadêmica de Saúde Coletiva do Centro de Ciências Médicas da UFPE e membro da Pós-Graduação em Direitos Humanos da instituição, Bernadete Perez Coelho, dá entrevista sobre a pouca representatividade de negros e negras na classe médica no país. De acordo com pesquisa Demografia Médica do Brasil 2018, da Universidade de São Paulo, apenas 18% dos médicos brasileiros se declaram como pretos ou pardos. “Percebo, enquanto professora, uma maior presença de negros e negras em sala de aula do que há 20 anos, quando me formei. Mas esse aumento está longe de significar uma igualdade quando comparada à quantidade de brancos no curso”, pontua. Confira a entrevista completa sobre o assunto:   

Como você avalia a pouca quantidade de negros e negras nos cursos de graduação em Medicina no país? 
Desde o final da década de 1990 e, principalmente, a partir de 2012, com a política de cotas e algumas outras políticas afirmativas para ampliar o acesso da população negra aos cursos de nível superior, houve um aumento de estudantes nas universidades em cursos de graduação. No entanto, esse é um dado geral. Se formos analisar mais especificamente nos cursos mais concorridos, a exemplo de Medicina, o que isso representa? De fato, percebo, enquanto professora, uma maior presença de negros e negras em sala de aula do que há 20 anos, quando me formei. Mas esse aumento está longe de significar uma igualdade quando comparada a quantidade de brancos no curso. 
O motivo de haver poucos negros e negras está relacionado com o racismo estrutural, tem a ver com o curso, que é fundamentalmente elitista. 

O que poderia ser feito para mudar este cenário?
Esses cursos mais concorridos têm um grande fator que temos que colocar em análise: o fator da sustentabilidade ao longo da formação. O curso de Medicina, por exemplo, é em horário integral.

A gente precisa colocar em análise o que foi o nosso passado colonial, racista, preconceituoso e o que a gente aponta para o futuro como saída disso. Esse apontamento precisa combinar estratégias. Não pode ser um apontamento baseado apenas em políticas de definição de cotas, que eu defendo e acho que devem ser ampliadas. Mas, junto com isso, tem que ter políticas econômicas que trabalhem com o objetivo de diminuir as desigualdades; de sustentabilidade; de proteção social durante o curso com bolsas, incentivos, com um olhar diferenciado e singular para produzir mudança internamente nas universidades. Tem que ter política pública nacional, federal, dos estados e municípios que consigam diminuir esse abismo existente entre as etnias.

Em relação à saúde da população negra, o tema tem sido discutido no meio acadêmico da Medicina? Houve avanços?
De fato, teve avanço. Falamos muito mais da saúde da população negra, tanto do ponto de vista clínico quanto de saúde coletiva. Existem grupos de pesquisa muito fortes nessa discussão, inclusive aqui na UFPE. Precisamos ir além. 

Ser negro e negra no Brasil amplia e muito a vulnerabilidade em diversos aspectos, seja numa perspectiva da educação básica, de acesso ao nível superior, numa perspectiva ampliada de adoecimento (a mortalidade materna é mais incidente em mulheres negras, a hipertensão não controlada também é maior entre os negros). 

Com todos os avanços ainda temos um longo caminho, a iniciar pelo reconhecimento do racismo estrutural no Brasil. Junto com isso, fortalecer o papel da educação médica na inclusão transversal do tema, de maneira que possamos contar com médicos e médicas comprometidos ética e tecnicamente com as pessoas negras em todos os lugares. Fazer isso é garantir também a presença de alunas e alunos negros nos cursos de medicina, representando a diversidade da sociedade brasileira. Não existe saúde sem democracia e sem igualdade racial.