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Hospital de Santa Maria utiliza técnica inédita para reconstituir crânio de paciente

Implante ósseo

Hospital de Santa Maria utiliza técnica inédita para reconstituir crânio de paciente

Molde foi feito antes da cirurgia, o que reduziu o tempo do procedimento e o risco de infecção

Santa Maria (RS) – Uma técnica inédita de implante ósseo para reconstituir o crânio de um paciente foi utilizada no Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), vinculado à Universidade Federal de Santa Maria e à Rede Ebserh. Trata-se de planejamento cirúrgico por meio de impressão de biomodelos em impressoras 3D, para dar forma a uma peça que pudesse servir de molde para o implante de cimento ósseo, que também fosse biocompatível.

O paciente, um homem de 40 anos, deu entrada no Pronto-Socorro vítima de acidente de moto e com traumatismo craniano. Para salvar o paciente, uma vez que o impacto na cabeça fez o cérebro inchar, foi preciso remover parte da calota craniana. “A pressão cerebral estava muito alta. Retiramos a lateral óssea durante a cirurgia de craniotomia descompressiva”, explicou o neurocirurgião Diogo Trevisan.

Essa técnica – já conhecida dos neurocirurgiões – previa a retirada do osso e seu implante no abdome do paciente, para depois reaproveita-lo. Entretanto, isso não foi possível, pois seriam necessárias duas intervenções cirúrgicas simultâneas: uma para retirada de parte da calota craniana e outra para o implante no abdome.

A recuperação do paciente, após a cirurgia, surpreendeu o médico. Porém, ainda era preciso projetar a reconstrução do crânio com a fixação de um implante (Cranioplastia). O sucesso dessa segunda etapa só foi possível graças a assistência multiprofissional das equipes do E-Saúde, do Projeto CA+SA, do Serviço Bucomaxilofacial e da Unidade de Diagnóstico por Imagem do HUSM.

Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o método mais usado para reconstrução é o implante feito com cimento ósseo. Porém, a área removida era muito extensa – representava mais de um terço da calota craniana. Além disso, o cimento ósseo exige agilidade no manuseio por ter secagem rápida, em torno de 10 ou 15 minutos.

“É um trabalho artesanal. Funciona como uma massinha de modelar, que em alguns minutos vai endurecer e a gente não consegue dar o contorno. Quando a falha óssea é pequena, utilizamos sem problema. Mas nesse caso, a falha óssea era muito grande e não conseguiríamos reproduzir de maneira confiável o contorno do osso do paciente”, explica Trevisan.

O neurocirurgião teve, então, o auxílio de Gustavo Dotto, professor da UFSM e chefe da Unidade E-Saúde. “ Como havia uma grande área fraturada, não era possível moldar o implante diretamente no paciente. Então, usamos as imagens da tomografia dele, antes e depois da primeira cirurgia, para fazer o molde na impressora, e o cimento foi colocado diretamente nesse molde. O implante já chegou pronto no bloco cirúrgico” contou Dotto.

A peça foi feita antes da cirurgia para reconstrução do crânio, o que reduziu o tempo do procedimento e o tempo anestésico do paciente, diminuindo também o risco de infecção pois reduziu a exposição dele. “Para o implante, primeiro manipulamos o cimento, fizemos a inserção no molde e, em torno de 15 minutos a peça ficou pronta. O implante foi customizado para o paciente, ou seja, confeccionado com as suas medidas exatas. Esse processo durou cerca de 1h”, explicou a cirurgiã e Traumatologista Bucomaxilofacial, Wâneza Hirsch, que coordenou o preparo executado pelo cirurgião-dentista Marcelo Fontana.

Após o implante ficar pronto, um novo desafio: era preciso esterilizá-lo e ter certeza de que a sua estrutura não seria afetada nesse processo. “Fizemos o implante e mandamos esterilizar na V-pro [máquina que usa água oxigenada em forma de gás para esterilizar em baixa temperatura, para não agredir o cimento]. Tínhamos dúvida de como o cimento iria se comportar depois do processo de esterilização. Fizemos uma parceria com o laboratório do Curso de Química da UFSM. As análises e testes do material foram executadas pelo Professor Bob Burrow. A peça foi para o microscópio e observou-se que não tinha sofrido alterações” contou Wâneza.

A cirurgia para o implante no paciente foi então marcada. “Na cirurgia para Cranioplastia, entramos juntos no bloco cirúrgico e, enquanto o leito cirúrgico receptor era preparado, deixamos as placas e parafusos na espera para a fixação no crânio. Quando ele colocou a peça de cimento ósseo no paciente, encaixou muito bem. Fixamos com placas e parafusos para a estabilidade do implante”, recorda Waneza.

Além da recuperação do paciente e da preservação de sua estética facial, a equipe comemora o avanço na técnica utilizada. “Até então, fazíamos biomodelo, protótipo para planejamento cirúrgico. Agora demos mais um passo: fizemos um molde para vazar um implante. No futuro, queremos fazer implante biocompatíveis na impressora 3D”, projeta Dotto.

O procedimento também gerou economia para o hospital de cerca de R$ 3 mil, isso porque sem o molde feito para o cimento ósseo, seria preciso usar duas telas de titânio – no valor de R$ 1,5 mil cada – para fazer o implante.

Sobre a Ebserh

Desde dezembro de 2013, o HUSM-UFSM é filiado à Rede Ebserh. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) administra atualmente 40 hospitais universitários federais. O objetivo é, em parceria com as universidades, aperfeiçoar os serviços de atendimento à população, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), e promover o ensino e a pesquisa nas unidades filiadas.

Criada em dezembro de 2011, a empresa também é responsável pela gestão do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), que contempla ações em todas as unidades existentes no país, incluindo as não filiadas à Ebserh.

Com informações do HUSM-UFSM