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Comissão do HU-UFGD visa fortalecer humanização da assistência ao paciente e familiares

Cuidados paliativos

Comissão do HU-UFGD visa fortalecer humanização da assistência ao paciente e familiares

Grupo busca prevenir e tratar o sofrimento de pacientes com doenças que apresentem risco à qualidade de vida

Dourados (MS) – Maria Garcia da Silva tinha 76 anos quando se despediu de sua grande família no solário do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), vinculado à Rede Ebserh. Após mais de 60 dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) em função de uma grave doença cardíaca, ela finalmente se reuniu a todos que amava numa celebração em agradecimento por sua vida e sua história, tornando iluminado um momento que poderia ter sido de solidão entre tubos, sondas e medicamentos.

Dois dias depois, dona Maria se foi, e para a equipe que realizou seu cuidado ficou o aprendizado de que, mesmo diante da morte iminente, existem muitas possibilidades de se proporcionar vida digna e protagonismo ao paciente, de forma a prevenir e tratar seu sofrimento, assim como o das pessoas que o cercam.

Essa filosofia e suas práticas, chamadas de cuidados paliativos, vêm sendo fortalecidas há anos no HU-UFGD, e, recentemente, foram institucionalizadas com a criação de uma comissão envolvendo profissionais de diversas áreas que buscam implementar uma cultura em prol da qualidade de vida de pacientes em fase terminal ou portadores de doenças ameaçadoras à sobrevivência. A Comissão de Cuidados Paliativos (CCPali) do HU-UFGD é composta por 12 colaboradores, entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogas e assistente social.

Além dos sintomas físicos

A prática consiste na abordagem multiprofissional e multidimensional do sofrimento de pacientes acometidos por doenças que apresentem risco à sua qualidade de vida, não se resumindo a casos terminais. Existe, aliás, o cuidado paliativo precoce, que é realizado em conjunto com as medidas curativas ou prolongadoras de vida.

A prevenção e o tratamento do sofrimento do paciente e de seus familiares são feitos por meio da abordagem das diversas dimensões desse sofrimento, seja ele físico, psicológico ou espiritual. A partir da solicitação da equipe, é possível identificar problemas vigentes e iminentes e propor ações capazes de minimizar o sofrimento, respeitando a autonomia e os valores do paciente, objetivando mantê-lo informado e protagonista de seus cuidados.

Participação indispensável da família

Durante todo o processo, a família do paciente tem papel fundamental, independentemente do desfecho do quadro, se haverá melhora ou morte, pois o óbito não é visto como tragédia e, sim, como evento natural e integrante da vida. Os efeitos do luto e da morte, que são reconstruídos durante a hospitalização, não são nocivos à saúde da família, pois são feitas a prevenção e a promoção de saúde com os cuidados ofertados ao paciente e a seu círculo.

A exemplo da história de dona Maria, na filosofia dos cuidados paliativos o foco é o paciente e não a doença, sendo a prioridade o cuidado e não os protocolos e as regras institucionais.

A família de dona Maria não morava em Dourados, dificultando seu acesso às visitas em seus últimos dias de vida. A escuta e o diálogo foram fortalecidos e, assim, as possibilidades de cuidados foram surgindo. Os familiares organizavam pequenas caravanas para vê-la no hospital, mas as restrições de horários e visitantes eram empecilho, além do silêncio e da discrição exigidos durante as visitas. Mas a visão humanizada dos integrantes da equipe, inspirados pelos princípios dos cuidados paliativos, abriu um horizonte de experiências para proporcionar conforto à paciente.

Quando o cuidado é protagonista, as regras que vão contra a concretização dos objetivos deixam de fazer sentido. Segundo relatos da equipe, dona Maria era mulher de fé e a religiosidade sempre foi ponto central em sua vida. Por haver esse entendimento, ela pôde ouvir suas netas cantando e seu filho lendo a Bíblia, na beira do leito. Cantaram um, dois, quantos cânticos quiseram. E não atrapalharam a rotina hospitalar. Ao contrário, as expressões de amor receberam boas-vindas.

Por fim, uma celebração em sua homenagem foi organizada em um dos solários do HU-UFGD e, ciente de sua situação, dona Maria pôde ver a luz do dia uma última vez e estar entre filhos, netos e bisnetos, que a honraram com a leitura de sua biografia. Ela viveu momentos felizes e cheios de amor e a equipe, juntamente com a família, fez tudo que estava ao alcance para realizar seus últimos desejos. Assim, foi possível transformar momentos que seriam de sofrimento em instantes marcantes e cheios de vida.

Origem do termo

Reconhecidos como uma forma inovadora de assistência à saúde, os cuidados paliativos vêm ganhando força no Brasil, especialmente nos últimos dez anos. Surgiram oficialmente como prática na década de 1960, no Reino Unido, tendo como pioneira a médica Cicely Saunders, que também era assistente social e enfermeira. Seu trabalho iniciou o movimento, que inclui a assistência, o ensino e a pesquisa, e norteia-se pela integralidade do atendimento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1990, reconheceu e definiu pela primeira vez os conceitos de cuidados paliativos, inicialmente voltados a pacientes com câncer. Em 2002, o conceito foi revisto e ampliado, incluindo assistência a outras doenças como Aids, cardiopatias, doenças renais, neurológicas e degenerativas e, por fim, em 2004 passou a ser apontada como parte da assistência completa à saúde, no tratamento de todas as doenças crônicas, inclusive em programas de atenção a idosos.

Sobre a Ebserh

Desde setembro de 2013, o HU-UFGD é filiado à Rede Ebserh. Estatal vinculada ao Ministério da Educação, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) administra atualmente 40 hospitais universitários federais. O objetivo é, em parceria com as universidades, aperfeiçoar os serviços de atendimento à população, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), e promover o ensino e a pesquisa nas unidades filiadas.

A empresa, criada em dezembro de 2011, também é responsável pela gestão do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), que contempla ações em todas as unidades existentes no país, incluindo as não filiadas à Ebserh.

*Matéria publicada pós-eleição em virtude da legislação eleitoral

Com informações do HU-UFGD