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“É possível envelhecer de forma saudável e ser um idoso robusto”, diz geriatra

Terceira idade

“É possível envelhecer de forma saudável e ser um idoso robusto”, diz geriatra

Dia do Idoso amplia debate sobre os desafios do envelhecimento saudável

O mundo está ficando velho. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a previsão é que os idosos sejam maioria no planeta em 2025. No Brasil, já são mais de 28 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Com isso, o tema saúde do idoso ganha ainda mais relevância, uma vez que a tendência é o aumento da incidência de doenças como como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), as neoplasias e as demências, dentre outras muito comuns na terceira idade.

Manter a qualidade de vida durante a vida adulta, assim como hábitos saudáveis, é importante para que as pessoas na terceira idade passem os anos com tranquilidade. Para sensibilizar a sociedade mundial para as questões do envelhecimento, destacando a necessidade da proteção e de cuidados para com a população envelhecida, instituiu-se o dia 1º de outubro como o Dia Internacional do Idoso. No Brasil, ela marca também a aprovação da Lei nº 10.741, em 2003, que tornou vigente o Estatuto do Idoso.

Neste ano, por conta da pandemia de coronavírus, não haverá festividades no Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh, que possui um dos maiores centros da rede pública direcionados à saúde do idoso em Minas Gerais. A data será lembrada em um mural com fotos das comemorações dos últimos anos.

A vice-coordenadora do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas UFMG e professora associada do Departamento de Clínica Médica UFMG, Maria Aparecida Bicalho, fala sobre mais o tema saúde do idoso:

 

Como saber a hora de procurar um geriatra?

A idade por si só não define a necessidade de abordagem geriátrica.  A principal indicação para procurar um geriatra é a presença de fragilidade. No Brasil, denominamos idoso o indivíduo com 60 ou mais anos de idade. Entretanto, o processo de envelhecimento é absolutamente heterogêneo entre as pessoas e sofre influência de inúmeros fatores - genéticos, sociais, demográficos, ambientais.

Idosos que possuem indicadores de fragilidade, como idade muito avançada, presença de múltiplas comorbidades, quedas de repetição, redução da mobilidade, múltiplas internações, transtorno mental grave, uso de múltiplos medicamentos, perda da capacidade para realizar as atividades do dia-a-dia (laborais, sociais e de lazer), perda significativa de peso corporal, presença de declínio da memória e de outras funções cognitivas (que podem estar associados às demências), além de ausência de apoio social e familiar, possuem maior vulnerabilidade para adoecer, morrer e serem hospitalizados e institucionalizados. Idosos com esse perfil se beneficiam do atendimento de um geriatra e de uma equipe multidisciplinar para diagnosticar, tratar e reabilitar as condições clínicas estabelecidas, e estabelecer prioridades terapêuticas, evitando os efeitos desnecessários e iatrogênicos de determinadas intervenções.

É importante lembrar que muitas medidas indicadas para o tratamento de indivíduos mais jovens e idosos robustos não são seguras e devem ser evitadas para idosos frágeis ou sob risco de fragilização. Para esses pacientes, é importante que o geriatra assuma o gerenciamento do cuidado.

 

Quais as doenças mais comuns na terceira idade? 

As doenças crônicas, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, aterosclerose (doença arterial coronariana, doença cerebrovascular, doença arterial periférica), as doenças pulmonares crônicas, como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), as neoplasias e as demências, principalmente a demência secundária à doença de Alzheimer, são as mais frequentes na população idosa. No nosso meio, apesar dos avanços terapêuticos, as doenças infecciosas (tuberculose, hepatites, AIDS, sífilis, dengue) ainda são muito prevalentes.

Além disso, as causas externas, como traumas (decorrentes de quedas, agressões, acidentes de trânsito, etc), também são fatores importantes de adoecimento e morte de idosos brasileiros. A osteoporose, doença silenciosa de elevada prevalência entre idosos, associa-se com o aumento do risco de fraturas. Essas são causas de complicações, deformidades, redução da mobilidade, hospitalização, institucionalização e morte.

É importante ressaltar que em idosos as doenças podem apresentar manifestações atípicas, como ausência de febre, presença de alterações de marcha, confusão mental, incontinência urinária, dentre outras.

 

É possível envelhecer com saúde? Como?

É possível envelhecer de forma saudável e ser um idoso robusto mesmo apresentando doenças crônicas, desde que essas doenças estejam controladas e que o idoso não apresente lesões em órgãos como coração, rins e cérebro. Considera-se como saudável aquele idoso que mantém a autonomia e a capacidade de executar as atividades da vida diária. Podemos alcançar uma velhice saudável por meio do tratamento adequado das doenças crônicas, evitando complicações futuras; realização de atividades físicas de forma regular; manutenção de alimentação balanceada; ausência de hábitos de vida deletérios à saúde (fumo, uso de álcool, uso de drogas, comportamento sexual de risco); manutenção do contato social, atividades de lazer e boa qualidade do sono.

Cabe ressaltar que os parâmetros e metas terapêuticas definidos para o tratamento das doenças deve ser individualizado, levando em conta a situação clínica e funcional do idoso. É inadequado aplicar parâmetros descritos para indivíduos jovens em idosos, desconsiderando as modificações que ocorrem durante o processo de envelhecimento normal do organismo. A aplicação de parâmetros individualizados e a priorização das intervenções baseada num plano de cuidados desenhado para cada idoso contribui para evitar problemas adicionais à saúde do idoso.

 

Quais os impactos da pandemia na saúde do idoso, além do risco elevado para complicações da Covid-19?

O isolamento social imposto pela pandemia pode contribuir para o desenvolvimento de transtornos depressivos e de ansiedade, medo de morrer, sensação de abandono, alterações do sono, alterações comportamentais, comprometimento da memória e outras funções cognitivas, piora da dependência e dos quadros de demência. Também pode determinar piora da qualidade do cuidado, especialmente para aqueles idosos que não são capazes de viver de forma independente e autônoma. Para eles, a falta de cuidados adequados pode determinar consequências graves com aumento do risco de adoecimento, institucionalização e morte.

Muitos pacientes têm vivenciado dificuldade de acesso ao sistema de saúde durante o período de pandemia. Esse fato se associa ao desenvolvimento de complicações das doenças crônicas e necessidade de internações de serviços de urgência.

Para as famílias que não têm condições de cuidar do idoso frágil, a necessidade de um cuidador é uma realidade. Muitas vezes, esses cuidadores constituem fonte de contaminação para os idosos. Desta forma, as famílias têm vivenciado um grande dilema: por um lado, um idoso que necessita de cuidados; por outro, o medo da contaminação.

Nos últimos anos, o isolamento social tem sido apontado como uma das causas removíveis associadas à demência. Entretanto, até o momento, ainda não sabemos se observaremos um aumento do número de casos de demência relacionado ao isolamento social imposto pela pandemia.